Texto de Carlos Fonseca
O concelho de Miranda do Corvo apresenta uma grande heterogeneidade orográfica e hidrográfica que, de certa forma, é acompanhada por uma acentuada diversidade faunística. Um pouco por todo o concelho é possível encontrar vestígios de muitos invertebrados e vertebrados e encontrar outros tantos. Contudo, é na Serra da Lousã, que constitui uma grande parte do Sul deste concelho, tomando os nomes de Serra de Espinho e de Miranda, que se encontram variadas espécies, com grande interesse sob o ponto de vista ecológico e conservacionista.
Entre as múltiplas espécies de invertebrados, destacam-se as borboletas (lepidópteros) e os escaravelhos (coleópteros). Espécies comuns, mas muito belas, como a Borboleta Cauda-longa-de-andorinha (Iphiclides feisthamelii) podem ser observadas pousadas em medronheiros e pirliteiros um pouco por todo o concelho, sob os quais poderão ser encontradas as excêntricas cabras-louras ou carochas (Lucanus cervus), que tanta curiosidade despertam ao Homem.
No Rio Dueça, que atravessa o concelho sensivelmente de Sul para Norte até se juntar ao Ceira, ainda é possível pescar a Boga-comum (Chondrostoma polylepis) e o Ruivaco (Rutilus macrolepidotus), que constituem um endemismo (espécie com uma distribuição restrita) ibérico e lusitano, respectivamente.
Associados aos cursos de água permanentes e temporários, os anfíbios têm no concelho de Miranda do Corvo, uma considerável diversidade. Espécies endémicas da Península Ibérica como a Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), o Tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai) e a Rã-ibérica (Rana iberica) podem, com alguma facilidade, ser encontrados nas margens das ribeiras. Também aqui se podem encontrar os Lagartos-de-água (Lacerta schreiberi) que são dos répteis mais formosos da nossa fauna. Por entre os matos mais frescos e húmidos rastejam os Licranços ou Fura-matos (Anguilis fragilis) e a singular Cobra-de-pernas-tridáctila (Chalcides striatus), para além de várias lagartixas e cobras.
As aves constituem um grupo bastante diverso no concelho, em virtude da variedade de habitats que aqui se podem encontrar. Mais de uma centena de aves estão descritas para esta região destacando-se um razoável número de rapinas tais como o Açor (Accipter gentilis), a Águia-cobreira (Circaetus gallicus), a Águia-calçada (Hieraaetus pennatus), o Gavião (Accipter nisus), o Falcão-peregrino (Falco peregrinus), o Bufo-real (Bubo bubo), a Coruja-das-torres (Tyto alba) e a Coruja-do-mato (Strix aluco). Para além das aves de rapina, fundamentais para o equilíbrio ecológico dos ecossistemas aqui existentes, outras preciosidades ocorrem nesta região, tais como o Melro-d’água (Cinclus cinclus) e o Guarda-rios (Alcedo athis), espécies frequentemente associadas a rios e ribeiras de águas límpidas e de boas condições ambientais, longe de fontes poluidoras.
Entre os mamíferos, o grupo dos carnívoros tem especial realce não só pela sua diversidade como abundância. Assim, espécies muito comuns como as Raposas (Vulpes vulpes), as Ginetas (Genetta genetta) e as Fuinhas ou Papalvas (Martes foina), partilham alguns habitats mirandenses com a pequena Doninha (Mustela nivalis), o fugidio Toirão (Mustela putorius), o omnívoro Texugo (Meles meles), o raro Gato-bravo (Felis silvestris), o “cinegético” Sacarrabos (Herpestes ichneumon) e a “anfíbia” Lontra (Lutra lutra), que vai sobrevivendo nalguns cursos de água do concelho. Outros mamíferos de menor porte, como o Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus), o Esquilo (Sciurus vulgaris), o Rato-do-campo (Apodemus sylvaticus) e o Coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) ocorrem neste território. Contudo, são os mamíferos de médio-grande porte que assumem o protagonismo principal da fauna concelhia. O Javali (Sus scrofa), que ocorre um pouco por todo o concelho, e o Veado (Cervus elaphus) e o Corço (Capreolus capreolus), que se encontram com mais frequência na zona serrana, são os animais que atraem mais gente a este concelho, seja para a sua observação em pleno estado selvagem, ou no Parque Biológico da Lousã.